Renato Paiva recebendo a camisa do Botafogo e cumprimentando John Textor - Foto Reprodução: Vítor Silva/BFR
Em um discurso que demorou quase 20 minutos, John Textor apresentou Renato Paiva como técnico do Botafogo para a temporada 2025 na tarde desta sexta-feira (28/02), no Estádio Nilton Santos. O empresário norte-americano explicou a demora no processo de escolha e elogiou o português, focando principalmente no trabalho com jovens jogadores.
– É com enorme orgulho, enorme satisfação, que chego a este gigante do futebol mundial, do futebol brasileiro. Claramente, o objetivo de qualquer treinador é treinar um clube da dimensão do Botafogo, com sua história e seu presente. Quando surgiu a oportunidade, nem pestanejei, fiz tudo que estava ao meu alcance para chegar a esta cadeira – afirmou Renato Paiva.
– Chego atrás do trabalho desenvolvido em 23 anos como treinador, sendo 18 na base do Benfica. Estar 18 anos em um clube desses não é fácil, manter-se é o mais difícil. Depois fui para o exterior, com título histórico no Independiente Del Valle, passagem não tão boa pelo León e passagem pelo Bahia, na qual olhando pelo contexto e pela realidade, não foi tão má. Teve um título estadual que não se ganhava há três anos, com elenco com 25 jogadores novos, sem tempo para treinar, e depois campanha na Copa do Brasil onde igualamos o melhor registro da história do clube e só saímos na semifinal nos pênaltis. E depois minha entrada no Toluca, que considero o melhor trabalho que desenvolvi no profissional, em termos não só de qualidade de jogo, como de números. Coincide muito a ideia, a forma como vejo o futebol, o jogo, que se encaixa na história do Botafogo, que é ganhar não só por ganhar, há uma forma que o torcedor exige e vamos respeitar. Vamos tentar ganhar com essa forma de jogar, Botafogo Way, como o John diz. Foi através desse percurso que me viram como pessoal ideal para chegar ao Botafogo e aqui estou – resumiu.
Qual o estilo de Renato Paiva? Apresentado oficialmente nesta sexta-feira, o treinador prometeu um Botafogo ofensivo, coletivo forte e relação próxima com os jogadores. Ele está alinhado ao Botafogo Way, pregado por John Textor.
– Descrever-me como treinador é quase olhar para as minhas equipes a jogar. É proposta de jogo ofensivo, manter a bola o maior número de tempo possível e quando a perdemos recuperá-la o mais rápido possível. Uma equipe que não é reativa, uma equipe que vai à procura, uma equipe que vai buscar o gol adversário. Aliás, os números, por exemplo, agora no México, em dois torneios, fomos duas vezes o melhor ataque do campeonato e considerados unanimemente as equipes que melhor jogavam futebol no México. E é um bocadinho isto, fundamentado essencialmente no desenvolvimento individual dos jogadores. É algo que eu acredito muito, trago da base do Benfica, onde eu acredito que o desenvolvimento do indivíduo por si só, depois quando todos conectados haverá um coletivo muito mais forte. Então eu invisto muito tempo nisso com os jogadores. Temos uma relação muito próxima com os jogadores. Por onde passamos e por onde saímos, eu digo sempre, às vezes digo, perguntem aos jogadores, porque eles são os que melhor avaliam os treinadores. Perguntem por onde passamos. Eles falarão sobre o nosso trabalho. E acima de tudo muito consciente daquilo que a torcida do Botafogo quer, em termos de qualidade de jogo, aquilo que a torcida quer em termos de conquistar títulos. E sentir que, de fato, este DNA, a forma como eu vejo um jogo, que assenta muito no jogo posicional, a forma como nós desenvolvemos esta forma de jogar, passo a passo a redundância, é algo que vai agradar bastante aos jogadores do Botafogo – declarou Renato Paiva.
O técnico destacou o tempo que terá para treinar e preparar a equipe para o restante da temporada.
– Por ter este mês de trabalho, sou um sortudo, tenho muita sorte, porque no Brasil não é fácil. Foi ruim porque estamos fora de uma competição, mas o treinador não olha para os problemas, encontra soluções. A solução é um mês para juntar a equipe, base campeão, elenco extraordinário em nível técnico e em querer, ambição, mostrou em momentos de muita exigência conquistando títulos de forma histórica, como a Libertadores. É uma conquista ao alcance apenas dos grande grupos. A base dos jogadores e do trabalho é boa, é só dar um toque do nosso modelo de jogar. Tenho certeza que os torcedores vão ficar muito orgulhosos do Botafogo e de como os jogadores vão os representar – garante.
Paiva chegará acompanhado por dois novos nomes: Ricardo Dionísio, que foi seu auxiliar no Bahia, e Miguel Teixeira, que estava trabalhando como auxiliar do técnico português José Morais no Bodrumspor, da Turquia.
Além disso, seguirão com Renato Paiva de sua última passagem pelo Toluca e Bahia o preparador de goleiros Rui Tavares e o preparador físico Daniel Castro.
Veja abaixo o discurso de John Textor:
“Gosto de ter meu tempo para fazer uma mudança de treinador. Foi um grande luxo que a saída do nosso último treinador tenha acontecido no final de uma temporada. Creio que fui bem claro sobre como vejo o calendário e, embora compreensivelmente muitos torcedores quisessem que uma decisão acontecesse muito rápido, e não sou surdo às preocupações dos torcedores, eu realmente queria usar esse tempo de entressafra para tomar a decisão certa.
Só para dar uma ideia do processo antes de começar a falar sobre o treinador especificamente… Aproveitei esse tempo para não apenas entrevistar, mas realmente ter conversas com vários treinadores. Gostaria de manter essas discussões bem próximas entre mim e os treinadores. Isso levou a rumores e especulações sobre quem estava recebendo uma proposta, se tínhamos feito ou não uma proposta, se fomos rejeitados ou não por um treinador em particular, e em grande parte a maioria esses rumores não eram realmente precisos sobre o processo pelo qual eu estava passando.
Gosto desse tipo de conversa com treinadores há vários anos, e elas realmente são conversas. Quando tive a chance de me encontrar com um coach em 2021, foi um café da manhã com Paulo Fonseca. Aqui estamos em 2025, e eu o considerei a pessoa perfeita para uma das vagas de emprego dentro da nossa organização.
Essas conversas às vezes são só para conhecer uma pessoa, às vezes são para ser bem específicas, para fazer uma proposta. Fizemos uma proposta para André Jardine no começo do ano, porque eu achava que ele era especialmente adequado para nossa aproximação. Mas também tivemos muitas outras conversas com grandes homens, grandes treinadores, que eram principalmente sobre seus planos de vida e se eles se alinhavam ou não com nossos objetivos como clube.
Houve muitas oportunidades para fazermos uma contratação, um bom homem, um bom treinador, colocá-lo no vestiário, deixar todo mundo feliz, acalmar a base de torcedores. Mas esta pausa na temporada foi uma chance para realmente tentarmos encontrar alinhamento entre como queremos jogar e como queremos fazer este clube crescer.
Acredito que conseguimos ter sucesso rapidamente como clube, porque os jogadores confiam que o Botafogo representa um caminho fantástico para as carreiras desses jogadores. Somos o primeiro clube que começou a mostrar evidências reais de mudança no fluxo de jogadores, na direção dos jogadores, na migração de jogadores pelo Botafogo para a Europa, onde muitos deles sonham em ir. Atletas recentes que passaram pelo nosso clube e nos ajudaram a ganhar um campeonato, eles receberam a promessa de que se ajudasssem a ganhar no Brasil, nós os ajudaríamos na sua trajetória.
Como isso se relaciona com o treinamento? Para ser confiável aos jovens, você precisa ter confiança nos jovens. Certos treinadores olham para nosso elenco, a maioria dos treinadores, como eles estão em uma das profissões mais inseguras do mundo, eles próprios se tornam muito inseguros. Então, treinar para evitar o fracasso se torna mais óbvio em certos treinadores do que treinar para o sucesso, e é por isso que muitas vezes você verá treinadores favorecendo o jogador mais veterano, ele pode ser mais lento, pode ter passado do seu tempo, mas talvez ele seja um guerreiro, talvez ele leia bem o jogo. Essas são coisas que os treinadores dizem a si mesmos e aos donos sobre o motivo pelo qual justificam colocar um jogador mais velho em campo em vez de um jogador mais jovem em desenvolvimento.
A realidade da economia do futebol brasileiro, a realidade do atleta brasileiro, criou essa migração de jogadores do Brasil e da América do Sul para a Europa, e isso aconteceu aqui antes de eu chegar aqui.
É importante ter um treinador que não só atenda ao modelo de negócios do nosso clube, ao modelo esportivo do nosso clube, mas também seja apropriado para o país, o continente. Esse conceito de confiança e juventude é na verdade uma métrica que é medida. Não é apenas observada, é medida. Quando olhamos para diferentes treinadores, veremos a confiança nos jovens com base em uma porcentagem de jogadores jovens que um treinador implanta em um elenco normal. E pode ser 16% para um treinador que tem uma confiança média nos jovens, ou pode ser 25% para um treinador que tem um nível extremamente alto de confiança nos jovens. Então, se vamos construir um campeão sustentável no Botafogo, temos que atingir esse equilíbrio.
Então, conforme os jogadores vêm e vão, nós realmente queremos construir um time que não sobe e desce como uma montanha-russa, mas um competidor de alto nível e sustentável. Renato demonstrou sua confiança nos jovens ao permanecer, por sua própria escolha, na base do Benfica por mais de 15 anos. Ele teve muitas oportunidades de se tornar um treinador profissional e escolheu construir sua carreira desenvolvendo jovens jogadores.
Ele aprendeu com uma grande organização e uma grande academia e ajudou a construir e a evoluir uma grande organização e uma grande base. Seu trabalho e a confiança que o Grupo City depositou nele quando assumiram o Bahia… A imprensa, os torcedores dirão que ele não funcionou, mas eu não olho para os resultados, olho para o trabalho. Nós gostamos do trabalho dele no Bahia.
Há muitas partes das organizações, o treinador é apenas uma parte delas, mas sua experiência do Equador, México e no Brasil, originário de Portugal, por muitos anos na base, ele realmente se alinhou com esse estilo de jogo que queremos: inteligente, técnico e rápido. Agora, se ele atingirá esse ideal aqui vai depender do trabalho dele. Vai depender do meu trabalho em apoio a ele. Vai depender do departamento de futebol. Não é só uma pessoa, mas para aspirar o Botafogo Way, todos nós temos que estar alinhados uns com os outros e todos nós temos que trabalhar para esse ideal de inteligente, técnico e rápido.
Essas são as razões, e peço desculpas por me estender tanto, tomei essa decisão no meu tempo, e finalmente decidi sobre muitos nomes, homens muito bons, grandes treinadores, e essa é a pessoa que eu acho que está mais alinhada com o que estamos tentando fazer. Foram muitas conversas ótimas com muitas pessoas fantásticas, mas Renato era o mais preparado para essas discussões. Ele sabia mais sobre nossos atletas do que eu. Não sou um cara do futebol, mas conheço nossos atletas. Ele tem um plano para cada um dos nossos atletas, e ele veio para o processo de entrevista com isso. Ele tem um plano para eles individualmente para ajudá-los, e também dentro de um coletivo. E eu acho que essa foi provavelmente a parte mais impressionante da entrevista.”
Assista abaixo: