O Santista, e Narrador Cléber Machado, novamente na Record, para a cobertura do Paulistão 2025 e do Brasileirão a partir de Março. Foi entrevistado pelo Portal R7, e fez elogios e ressalvas sobre as Safs, narrador torce pelo sucesso do Botafogo, mas espera que
Cléber Machado, de 62 anos, é um dos principais nomes da televisão brasileira quando o assunto é jornalismo esportivo. Com mais de 40 anos de carreira, o narrador se junta ao time da RECORD para os campeonatos Paulista e Brasileiro deste ano — a estreia é nesta noite, com Palmeiras x Portuguesa, às 21h30.
Em entrevista ao R7, o jornalista fala sobre a seleção brasileira, o futuro das transmissões esportivas na TV aberta, a polarização do futebol no país e, é claro, sobre as SAFs (Sociedades Anônimas de Futebol).
R7 — As SAFs fazem sucesso no futebol brasileiro nos últimos anos, e muitos clubes deixaram o modelo associativo e mudaram para sociedades anônimas. O que você acha desse formato? Ele deve ser melhor regulamentado?
Cléber Machado — Acho que pode dar certo. Não sou nenhum especialista na questão, mas pode dar certo. A questão de regulamentar é: tudo deve ser bem regulamentado, observado, monitorado. Teoricamente, é um grande negócio. Se você conseguir ter uma boa relação da empresa com o clube, se a SAF entender qual a história do clube, a tradição, os anseios, o potencial... Se for simplesmente uma coisa de ‘Eu entro, ganho dinheiro e saio’, vira um negócio que talvez não combine com o nosso futebol. O nosso.
Acho que [a SAF] é uma solução, porque o nosso futebol vive há muito tempo de uma irresponsabilidade administrativa. Você vê o tanto de clube que tem dívida, algumas delas astronômicas. A questão de ter dívida não é um pecado. Muita gente tem dívida. Você pode financiar um carro, desde que você tenha recursos para pagar. Se você não honrar, perde o carro. O clube de futebol não tem punição.
Teve SAF que deu certo, SAF que não deu certo. Acho que somos extremamente desconfiados e temos que ser para saber qual é a de cada um. Em tese, é um bom negócio, é uma boa ideia, um jeito de melhor o nível econômico e até profissional do futebol. Agora, se os ‘SAFeiros’ forem iguais aos diretores que temos na história do futebol, não vai adiantar nada.
R7 — As SAFs devem ser uma opção apenas para clubes que não conseguem ter uma grande capacidade de arrecadação?
Cléber — A questão é o seguinte: não adianta você ter muito dinheiro e gastar mal. Aí, em vez de comprar um apartamento, você compra quatro carros por mês. Uma hora os carros estarão velhos e você não tem onde morar. Agora, saber gastar o dinheiro é muito ‘eu acho que é de um jeito, você acha que é de outro’.
O que a SAF tem que fazer? Ela tem que negociar dívida? Ela tem que pagar as dívidas? As dívidas dos clubes vão para as SAFs. Como é que isso vai ser negociado? Não tem prazo de pagamento? Vai ter outro endividamento? Vai ter investimento e vai ter recurso? Porque, se não tiver recurso, não há dono de SAF que resista.
Ninguém, nem o torcedor mais fanático e bilionário, compra um clube e bota dinheiro, bota dinheiro, bota dinheiro... Uma hora, o sócio vai falar: ‘Vem cá, nós vamos só botar dinheiro nessa parada aí?’. Acaba sendo um negócio. Agora, é um negócio que envolve muitas outras coisas.
Você pode fazer propaganda para vender sorvete e conseguir vender sorvete. Agora, você fazer propaganda que o teu time é bom não garante que o teu time vai ganhar um campeonato.
Quando o Botafogo, em dois, três anos de SAF, ganha um Campeonato Brasileiro e uma Libertadores, todo mundo acha que tem que ser igual. Há de se observar o que acontecerá com o Botafogo — e tomara que continue nesse círculo virtuoso. Há de se observar o que acontece com outros clubes que não são SAF e os acordos de SAF que não deram certo. Não tem receita de bolo.
R7 — O que fez o futebol brasileiro se tornar atrativo para essas SAFs? Por que agora conseguimos repatriar e segurar talentos?
Cleber — Acho que não aconteceu muita coisa, não. Tenho um amigo, jornalista como nós, o Marco Antônio Rodrigues — o Bodão —, que sempre dizia que o mercado do futebol tem dinheiro. E não é que o Bodão descobriu isso, a gente sempre ouviu de caras que se dedicaram a estudar mercado, o futebol como mercado, que o futebol tem mesmo potencial para faturar. O futebol é uma indústria que movimenta muito dinheiro. Insisto: para mim, na minha cabeça leiga, é como você gasta.
O futebol é uma coisa que, obviamente, como tudo, como toda economia, se tornou global. Quando o Grupo City vem aqui e investe no Bahia, evidentemente esse grupo tem não só o Bahia, ele tem outros [clubes em diferentes] países onde ele vai investir. Aqui no Brasil, ele foi procurar um clube que provavelmente atendia às necessidades dele.
Quando o John Textor vem comprar o Botafogo, a partir de uma empresa que ele tem, ele não tem só o Botafogo. Tem lugar em que ele está dando certo, tem lugar em que ele está dando mais ou menos certo, tem lugar em que ele não ganha campeonato, tem lugar em que ele quase cai. Aqui no Botafogo ele conseguiu ser campeão.
Não consigo ter uma opinião abalizada sobre a questão econômica. Tem mercado, precisa ter criatividade e acho que você precisa gastar bem o que você arrecada.
Uma vez, ouvindo Marcelo Paes, que hoje é o CEO do Fortaleza e era presidente do clube antes, ele falou assim: ‘Sei que não vou ganhar como esses clubes que a gente cita sempre, mas preciso ganhar o máximo que puder. Preciso investir bem esse valor que ganhar’. Então, não adianta falar que o cara lá ganha R$ 1 bilhão. Não vou ganhar R$ 1 bilhão. Não tenho condição de ganhar R$ 1 bilhão, mas, se eu conseguir ganhar R$ 300 milhões e aplicar bem, como o futebol é uma competição que não tem muita lógica, eu posso ganhar um jogo.
No voleibol, se a gente forma um time de 2 m de altura e enfrentar um time de 1,5 m, a gente vai ganhar o jogo. O futebol é diferente como esporte.
Nós jornalistas temos sempre a pretensão de saber de tudo. Então, é muito fácil, eu e você aqui, a gente decidir quem comprar, quem vender, quem montar, quem contratar. A gente não vai fazer, não vai ver se deu resultado ou não. Agora, a gente deve investigar, cobrar, perceber, desconfiar. Essa é a nossa função.
R7 — Você acredita na possibilidade de uma ‘espanholização’ do futebol nacional, no qual dois ou três clubes dominam os títulos e campeonatos?
Cleber — Sempre ouvi falar isso da ‘espanholização’ do futebol. ‘Ah, se o Flamengo e o Corinthians vão ganhar muito mais da televisão, só eles vão ganhar campeonato’. Como dizem várias pessoas, acho que Tom Jobim foi o primeiro: ‘O Brasil não é para amadores’.
Esse mesmo Corinthians, que dá uma arrancada espetacular no final do Campeonato Brasileiro de 2024 e vai para Libertadores, quase caiu. Muita gente bancava que ia cair. Quase ficou fora da Copa do Brasil. Esse time tem uma dívida imensa.
Precisamos pensar o que é ‘espanholização’ do futebol. Você tem alguma dúvida de que o Barcelona e o Real Madrid ganham mais do que os outros times da Espanha? E que eles ganham mais em campo? Também não. Eles ganham mais em campo porque eles são mais ricos? É provável.
Aqui, no Brasil, nós temos isso como regra? Os mais ricos ganham? Acho que quem tem sido constante são Palmeiras e Flamengo. Fiz um jogo outro dia da Copa do Brasil, eles jogaram as oitavas de final. E aí alguém passou um dado de que nos últimos dez anos eles ganharam mais de dez títulos cada um. Evidente que eles estão mandando. É só devido à grana?
O Fortaleza ganha igual a eles? Mas o Fortaleza tem sido um belo destaque dos últimos anos, chegando à final da Sul-Americana, brigando por Libertadores quase todo ano no Campeonato Brasileiro. ‘Ah, teve um ano em que ficou um turno na zona do rebaixamento’. Mas os caras não mandaram embora o [técnico Juan Pablo] Vojvoda e o time saiu do Z4.
Se você arrecadar o máximo que pode e souber aplicar, consegue jogar, porque o futebol é isso. E não é poesia, é isso mesmo. Você pode montar um baita time e perder. Agora, é mais difícil vencer num campeonato como o Brasileiro, com 38 rodadas, regularidade e blá, blá, blá.
O Palmeiras foi vice-campeão Brasileiro de 2024, foi eliminado nas oitavas da Copa do Brasil e nas oitavas do da Libertadores. O Atlético-MG foi para a final de Libertadores e Copa do Brasil, mas quase caiu. Ficou até a última rodada para cair. O nosso futebol tem um pouco disso, não me pergunte o porquê.
Com informações R7