Em entrevista ao canal de Duda Garbi no Youtube, Alex Telles conta delhates dos títulos da Libertadores 2024 e do Brasileirão. ¨Ganhar é muito bom, mas ver a alegria no rosto dos torcedores é surreal. Arrepia¨


Alex Telles chegou ao Botafogo como último reforço de 2024. A tempo de se adaptar ao time, se tornar titular e ser campeão da Libertadores e do Campeonato Brasileiro. O lateral-esquerdo deu entrevista ao canal do Duda Garbi e contou detalhes das conquistas.


Telles ainda contou o que significou os dois títulos e destacou a sintonia com a torcida.


Assista abaixo:




– Vou te falar uma experiência própria do que eu vivi nesses meses no Botafogo. Cara, ganhar já é bom, mas falando um pouco do torcedor do Botafogo, ganhar e ver no rosto do torcedor, desde o mais novo até o mais velho, a alegria deles, às vezes eles não acreditando no que está acontecendo, é algo surreal. Eu vi um vídeo esses dias de um, acho que podia ser bisavô e tal, levantando uma cadeira com a camisa do Botafogo, comemorando o título, com um cilindro de oxigênio do lado, com o filho e com os netos, e com os bisnetos. Isso para a gente arrepia, para a gente que joga e que está ali representando eles, mano, o tamanho do que foi esse ano com o Botafogo e a gente estar ali, foi surreal. Surreal – declarou Alex Telles.


– E isso que eu falo na hora que é a de bater o pênalti, a pressão que é. Porque tudo isso que tu vê hoje de comemoração, se tu não faz um gol, se tu não ganha uma final, tudo isso é um pouco negativo. Então é uma pressão grande, é uma responsabilidade. Só que, quando dá certo, tu vê essa alegria, tu vê o torcedor te vendo na rua, te agradecendo, “pô, obrigado, tu é ídolo, tu entra pra história”. E tu vê, eles falam para todo mundo, para todos os jogadores. A equipe de 24 não é o Alex, não é o John, não é o Luiz Henrique, a equipe de 24 fez uma história, mano. E vai estar lá no nome de todo mundo. Daqui a 50 anos, 100 anos, equipe de 2024 ganhou o Brasileiro e a Libertadores. Isso é surreal. E pode vir mais, né? Pode. E eu vim para o Brasil para isso. Eu vim para ganhar títulos grandes e entrar nessa história. E eu consegui. Ganhei esse ano, quero continuar ganhando. A mentalidade tem que ser essa, tem que ser de vencer, buscar sempre… Tu vê, às vezes, muito clube que chega, conquista e não consegue manter, né? Ganha um ano e depois… Cara, hoje o Botafogo tem estrutura para ganhar e continuar ganhando. Para mudar a história do clube – valorizou.


Leias outras respostas de Alex Telles:

Esperava 2024 assim?


– Jamais. Eu nem imaginava estar no Brasil. É verdade. Tudo é muito corrido, a gente vai falar bastante sobre isso, mas quando virou 23 pra 24, eu estava lá na Arábia Saudita, no Al-Nassr, e minha vida estava toda lá. Estava já com filho, família, esposa, os cachorros já estavam lá, tinha funcionário, já tava tudo adaptado. Mas tu sabe que a vida e o futebol te surpreendem, né? E a gente, querendo ou não, certas vezes, em certos momentos, a gente é visto como mercadoria, infelizmente, tem que falar isso. Como produto. E a gente tem que ir para onde Deus acha que é o nosso melhor lugar, e eu acreditei nisso, e pronto. Hoje, um ano depois, campeão brasileiro e da Libertadores, feliz, fazendo o gol na final, então, estou realizado demais.


Gol de pênalti na final da Libertadores


– Na verdade, o batedor oficial é o Tiquinho. E, como ele não começou o jogo, acabou que eu era o segundo, então, essa responsabilidade acabou sendo minha. E eu estava muito convicto que teria um. Nos dias anteriores, eu sempre imaginei isso, que uma hora ia ter um pênalti que eu ia bater. E, cara, quando eu comecei a chegar perto da final, sabe aquele sentimento de que tu sabia que ia ter um pênalti na final, que eu tava sentindo? Então, eu comecei a já mentalizar isso nas semanas do jogo, desde o jogo do Palmeiras, quando a gente viajou para a Libertadores, eu já comecei a mentalizar isso. E assim que deu o lance do pênalti, que foi para o VAR, eu já tinha certeza, já comecei a mentalizar isso. E, cara, é aquela pressão. O pênalti normal já é uma pressão, né? Porque tu pode ser o herói, pode ser o vilão, tu tá ali entre 50 e 50, né? E ainda mais numa final, da forma que foi, com um jogador a menos, com o ano histórico pro Botafogo, pro clube, os torcedores que foram lá, 50, 60 mil pessoas do Botafogo lá. Então, torna um peso muito maior. Só que eu estava preparado, cara. E eu errei um dia antes no treino. A gente treinou e o treinador, o Artur, falou assim, “um pênalti cada um, que a gente tem horário pra sair e vamos embora”. E eu bati, cruzado, e deu na trave e saiu. E aí, sempre fica aquela, né? E eu falei assim “cara, não vou bater de outro jeito, vou ficar assim. Errei hoje, vou fazer amanhã. Se tiver amanhã, eu vou fazer. Eu errei hoje no treino, amanhã eu faço”. Na hora que eu fui pra cobrança, eu respirei fundo, até parece na imagem, e eu senti que tinha que dar uma porrada rasteira. Minha intuição era essa. E deu tudo certo, cara. E o choro, a minha emoção foi por isso, por muitas coisas. Por a pressão que era o jogo, por a pressão que era ganhar uma Libertadores, o pênalti. Converti o pênalti. Aí estava a Vitória lá, tava minha filha na beira do campo, meus pais, família, tudo na beira do campo. Estava todo mundo muito perto. Então, eu acabei comemorando com eles e, cara, foi um momento histórico pra mim.


Já via o Botafogo antes


– A gente acompanha. A gente gosta de futebol, eu assisto muito, né? Inclusive lá em casa, a gente briga um pouco. Ela briga comigo às vezes, porque eu vejo muito futebol. Não adianta fugir, é o nosso trabalho, a gente gosta de assistir. E aí, quando o Tiquinho veio… O Tiquinho Soares estava conosco no Porto, temos um grupo dos jogadores do Porto. A gente se acompanha muito, é muito amigo. E quando o Tiquinho veio pro Botafogo, o grupo inteiro, sempre que tinha jogo do Botafogo, a gente acompanhava. Eu ficava até mais tarde assistindo. E o Botafogo estava fazendo um ano maravilhoso. Os primeiros seis meses, sete meses. Incrível. Luís Castro estava lá ainda. E aí, a gente acompanhando o Tiquinho, fazendo gol de todos os jeitos, né? Estava numa fase maravilhosa. O Botafogo há dois anos, três anos antes, estava na Série B, subiu para a Série A, foi comprado por uma SAF e depois já estava disputando no Brasileiro. Está ali dez pontos na frente e não ganha, sabe? Então, a gente acompanhou por ter um amigo, que era o Tiquinho, no Botafogo. E aí, a gente também acompanhou essa mudança de primeira pra segunda. Ele ficou muito triste, assim. Mas acho que essa proximidade de assistir, e eu sempre assisti ao futebol brasileiro, sempre acompanhei desde que eu saí do Grêmio, sempre assisti também os jogos do Grêmio, e do Juventude. Então, acaba que a gente acaba assistindo. Como eu falei antes, assistia ao Botafogo pela proximidade que eu tenho com o Tiquinho Soares. E, claro, a gente ficava muito triste, né, com o que aconteceu naquela época, mas não imaginava que eu estaria aqui, no Botafogo, ajudando o clube a conquistar o que perdeu no passado.


Sem fantasmas de 2023


– O ambiente do Botafogo para esse ano era muito vindo do resquício de 23? Assim, o grupo era quase o mesmo, né. Vieram cinco ou seis peças que vieram jogando, que ajudaram o time também, mas a base era a mesma, praticamente. E muito se falava ali entre a gente, mas não se falava do assunto. Era um tabu, mas a gente não deixava isso entrar no vestiário. O barulho maior era de fora, da imprensa. “Ah, o Palmeiras chegou. Ah, o Palmeiras ganhou, o Botafogo empatou. Ah, e aí, será que vai ser a mesma coisa?” Só que, quando a gente chegava no vestiário, a gente sabia que dependia só da gente ainda. Independentemente de qualquer coisa. Se o Palmeiras estava a um ponto, se estava com o mesmo número de pontos, se passou no saldo de gols ou o número de vitórias. Era praticamente num jogo com o Palmeiras, aquela foi uma final. Mesmo com o Botafogo com o Palmeiras na frente, no jogo do Allianz, a gente, no vestiário, o Marlon Freitas ainda falava pra gente “só depende da gente. É uma final. A gente tem duas finais nessa semana. No Allianz e em Buenos Aires. Uma de cada vez. Vamos ganhar agora”. E ele falou que tem um vídeo que viralizou. “Pô, tinha que ser aqui. Tinha que ser no Allianz”. E eu me arrepio porque o Adryelson, que foi marcado ano passado por ser expulso, um ano depois, contra o Palmeiras, ele faz um gol que faz o Botafogo passar à frente. É uma história que a gente não tem noção. Tudo estava escrito. E depois a gente vai para uma Libertadores, ganha da forma que foi. Então, assim, o nosso vestiário estava muito blindado. Também culpa do Artur, que era um cara que sabe comandar, né? Treina muito bem. Tem um staff muito bom. Mas ele sabe comandar grupo. Ele sempre blindou muito e falou assim “cara, não tem como a gente não ganhar esse ano porque o nosso time é o melhor. A equipe é a melhor”.


Lideranças


– Os líderes, capitães, Marçal, Marlon Freitas, Tchê Tchê, Gatito, Barboza, são os capitães ali que lideram a equipe. Eu cheguei para ajudar e, claro, quando chega novo no grupo também, tu quer conhecer como é a equipe, o clube, né? E eu como não conhecia o grupo, entre aspas, o que aconteceu no ano anterior, não tinha muito também o que falar do que aconteceu, sabe? Eu era o cara da nova geração. Eu vim desse ano e eles já estavam fazendo trabalho. O grupo do ano passado, que acabou não conquistando o Brasileiro, era praticamente o mesmo desse ano, só que eu não passei o que eles passaram no ano passado. Então não tinha como julgar. A responsabilidade era de todos. A gente assume tudo junto, porque era um grupo. E eu sentia também que tinha essa, como eu te falei, não era uma pressão, mas ao mesmo tempo não tinha como passar batido, né? Porque, cara, o Palmeiras estava se aproximando e a gente jogando duas competições e ninguém via isso praticamente, por exemplo. O calendário, que é o Brasil, só deu para ver a nossa viagem agora em dezembro. Só que o que falavam do Botafogo era o seguinte, “que o Botafogo vai pipocar, que o Botafogo vai chegar e não vai vencer”. Só que ninguém falava que o Botafogo era o único clube do Brasil que disputava Brasileiro e Libertadores. Que eram as duas principais competições. E, mesmo assim, nós ganhávamos. Nós não perdíamos, a gente ficou 16 jogos sem perder. Então acho que o elenco mostrou que é um elenco muito forte, se jogava eu, Cuiabano, Marçal, Hugo, todo mundo. Isso mostra um elenco forte e mostra também essa parceria. Eu cheguei super respeitado, respeitei todo mundo, me abraçaram total, me recepcionaram muito bem, todo mundo. E acho que isso foi muito bom. O grupo é muito bom. Acho que o símbolo dessa conquista do Botafogo é a humildade do grupo e o trabalho. Acho que isso não se paga.


Importância de Marlon Freitas


– Já é uma pressão de ser um capitão, né? Tu passa pra fora uma liderança, então tu assume isso. Porque sempre vai cair no capitão. No treinador, no capitão, nos principais jogadores. Então, e ainda mais esse lance da piscada do ano passado. Se tivesse ganho, ia ser muito legal. Mas como não deu certo, acaba que expondo ele de alguma certa forma. Eu conheci o Marlon esse ano como pessoa, ele é um líder nato, é um cara que lidera muito bem o grupo, tem sábias palavras, fala super bem. Os vídeos são de arrepiar. A cada três dias ele tinha que falar uma coisa nova e sempre conseguia inovar na mensagem e motivar todo mundo. E dentro de campo é um craque, joga pra caramba. Os passes que ele faz, as assistências que tem, a visão de jogo que tem. É um cara que não tem muito gol, ele mesmo se cobra isso, né? A gente fala pra ele que tem que fazer mais gol. Mas ele é um cara que é o líder nosso ali no meio-campo. Merece, mano. Merece por tudo que passou. Ele acabou perdendo o pai há um tempo e falou que queria dar o título ao pai dele. Pô, eu falei com ele, “conta comigo pra gente ganhar esse título pro seu pai”. Eu falei pra ele e a gente conquistou junto. O símbolo da conquista do Botafogo esse ano, além da qualidade técnica, do trabalho, foi a união de todo mundo. Assim, cara, a tua dor é minha e a gente vai estar junto. E se a gente perder, perde junto. Se ganhar, ganha junto. E a torcida se uniu muito com o time. Deu pra ver, pô, todos os jogos no Nilton Santos. Impressionante, cara. Impressionante, mosaico. E ganha, empata, a mesma vibração.


Jogo decisivo com o Palmeiras


– Eu lembro que na semana do jogo do Palmeiras e depois, consequentemente, da Libertadores, o próprio torcedor já estava vivendo esse dia e essa semana com a gente. Por incrível que pareça, os treinos foram da mesma forma, a mesma intensidade, a mesma tranquilidade. E eu não senti nervosismo do grupo ou ansiedade. Eu sentia muita confiança. E aí, quando a gente conversava sobre, a gente falava, “cara, depende da gente, mano. É uma final. E nós vamos ganhar lá dentro. Porque nada é por acaso, pô. Tem que ser lá, sabe?” O Marlon já vinha falando isso. Tinha que ser lá. Então, assim, a gente estava criando também esse clima positivo, sabe? Lembro que postei no meu Instagram e mais outros jogadores postaram também. E, cara, dá pra ver que a sinergia estava positiva. Quando a gente chegou lá, a preleção do Artur também, muito inteligente ele, falou “essa pressão, você não tem que sentir, você tem que se sentir privilegiado por ter isso. Porque os grandes jogadores… Sim, esse frigir na barriga é uma delícia, E essa pressão não é para todo mundo, é para quem consegue chegar em finais, em competições até o fim, em disputar campeonatos. Então vocês conseguiram… Vocês estão disputando um jogo hoje contra o Palmeiras porque vocês buscaram isso”. E isso te faz pensar, cara, a gente está disputando uma final com o Palmeiras hoje no Allianz porque a gente buscou isso. A gente está aqui por mérito. O grupo desde o início. Eu cheguei depois, mas o grupo todo desde o início. Então isso, de uma certa forma, deixa o cara mais confiante. “Poxa, a gente está aqui por mérito. O nosso time é bom. Então a gente pode ganhar”. Então eu acho que isso deixou o time tranquilo.


– O Artur sempre fala, seja o estádio que a gente for, o time que a gente jogar, a gente vai jogar pra ganhar. A gente vai jogar no estilo Botafogo. Então a gente chegou lá e jogou. O gol cedo do Gregore muda tudo, né? E a jogada ensaiada deu errado. Deu errado, mas deu certo. Deu gol. Não era para o Gregore estar ali, era para estar em outra posição. Foi muito engraçado porque, a gente trabalhou não foi assim. A única coisa que deu certo foi o meu passe pro Almada, que foi o início da jogada. O Almada tinha que dar o passe no Luiz Henrique, só que… Se ele acerta o passe, estava fechado o passe pro Luiz Henrique. Se tu for olhar a jogada, o cara fechou o passe pro Luiz Henrique. Só que ele errou o passe. O passe foi mais pra dentro. E o Gregore não era pra estar ali, ele tinha que estar mais no segundo poste. Deu certo a jogada, claro, porque deu gol, mas até brinco com o João, que é auxiliar que fazia as boas paradas lá. Falo “João, deu errado, mas deu certo”. Ele ficou felizão, assim. Tudo conspirou pra estar lá. O passe não foi certo, não era pra ele estar lá, mas… Ele estava. E aí já dá uma tranquilizada, sabe? E depois nosso gol contra o Internacional foi de bola parada também. Uma jogada diferente, uma outra dinâmica, que deu certo. Foram dois jogos que nos deram seis pontos decisivos contra o Palmeiras e contra o Inter de bola parada.


Efeitos para a Libertadores


– A gente comemorou muito. É uma vitória de campeão. Bom, depois tinha Inter e São Paulo ainda. Que era difícil. Mas a gente sabia que estava mais encaminhado. Só que, ao mesmo tempo que a gente tava comemorando, a gente tinha que pensar já na final do Libertadores, que era já uma final. Isso eu acho que era mais difícil do que… Então, assim, a gente ficou feliz. Só que isso foi um motivador pra final também. Porque, pô, a gente venceu o último campeão brasileiro em casa. Na casa dos caras. E tava tudo propício pra eles… Enfim, todo mundo achava que eles iam ganhar. Que nós íamos pipocar, que não sei o quê e tal, tal, tal. A gente vai lá e ganha. E vai pra uma final empolgado, isso vai dar uma resposta também, né? Então, até acredito também que o Atlético pode ter pensado “pô, os caras ganharam do Palmeiras lá, pô, vai ser um jogo mais difícil também”. Então, isso nos deu um combustível legal. Depois a gente foi direto pra Buenos Aires. E teve um tema legal lá em Buenos Aires, que eu acho que foi uma das coisas que também foi positiva pra gente ter mais brilho pro jogo. O Artur fez um momento familiar um dia antes. Eu não sei se foi dois dias antes ou um dia antes. Mas acredito que tenha sido um dia antes. Ele fez um momento familiar. As famílias chegaram, o John (Textor) pagou um avião pras famílias e um pra gente. E chegamos lá e tal. Fizemos um jantar de família no hotel. Depois teve um momento que a gente se abraçou todo mundo, fez a roda, como a gente faz no vestiário, mas com a família. O Marlon falou o “um por todos, todos por um”, todo mundo respondendo. Foi um momento que a gente teve um vídeo que passaram. Foi uma união muito grande. Isso deu um combustível pra gente, sabe? E eu disse pra eles lá, acho que a gente ganhou um jogo ali também, sabe? E eles foram muito inteligentes nessa questão. É que nós estávamos nesse lema já há um tempo. Porque tudo foi casando, assim.


Expulsão de Gregore


– Até na expulsão do Gregore, claro, na hora deu choque. Porque, pô, uma final. Tu perder um dos jogadores que é o mais combativo no meio-campo. Ele é um cavalo jogando, recupera dez bolas por jogo. E, fisicamente, ele é muito bom, assim. Ele corre o campo inteiro. Então, perder um cara desse numa final é difícil. E o que que pegou? A gente já estava com esse lema de que, “tudo com o Botafogo é mais difícil, parece, né?” Desde ano passado e não sei o quê, a gente estava empatando no Brasileiro nos três jogos, e o Palmeiras chegou, e tudo. Sempre muito mais difícil. E aí, o Gregore foi expulso, a gente… Enfim, eu, na hora, vi que ele ia ser expulso. Porque eu olhei o cara no chão, já estava sangrando. Não sei se ele fez uma cena, porque eu vi que ele tentou botar a mão na cabeça, os caras, “não, deita aí”. Ele já ficou no chão meio… Daí ele percebeu que podia ser expulso, ele já ficou mais no chão. Eu achei que era para expulsão. Vermelho, direto, claríssimo. Mas eu acho que ele também valorizou mais ainda. E aí passa aquele negócio, “putz, e agora, velho?” É 30 segundos, cara. E eu percebi que o Gregore ficou assim “o que eu fiz? Tipo assim, por quê, sabe?” Foi com tanta sede ao pote, tanta vontade. Eu não julgo. Foi um lance atípico, uma infelicidade completa.


– Lembro que a gente foi pro banco de reserva e tal, conversamos, eu falei pro Mister, “pegou, vai ser expulso”. Enfim, tomamos água, o Mister começou a ajeitar e tal lá. E aí o Marlon chamou a gente pro meio do campo, os jogadores ali. Ele só falou uma frase, ele falou assim “pro Botafogo, pra nós, sempre foi muito difícil. E eu tenho certeza que a gente vai ganhar, porque isso vai fazer a gente ganhar”. No meio do jogo. No meio da confusão. “A gente vai ganhar, mano. Sempre foi mais difícil pra nós. E isso é um sinal de que a gente vai ganhar. Joguem normal, corram, que a gente vai ganhar”. A partir daí o jogo é normal. Mas o Atlético foi em cima, começou. Só que o que eu acho? Que o Atlético não estava preparado nessa final pra atacar assim, mandar no jogo. Eu acho que eles estavam com uma estratégia mais como aconteceu em Belo Horizonte. Eles estavam mais defensivos, mais defensivos, e saindo contra-ataque. Porque a gente sempre é um time que gosta de jogar, enfim, o Botafogo tem essa característica. E a partir do momento que tem um jogador expulso e muda tudo o jogo, muda a estratégia do Atlético também. E aí a gente, com um a menos, tentou jogar da mesma forma. Até que o gol sai com 20 minutos. E a partir do momento que sai o primeiro gol… E não é contra-ataque. E a partir do momento que sai o primeiro gol, a gente já estava com essa confiança, mesmo com o jogador a menos. E a gente, “pô, não tem como perder essa final com um jogador a menos”. Beleza, mas a gente fez 1×0. E depois é o pênalti, aí a gente faz 2×0. Falei, “cara, a gente não pode perder”.


– A gente sentia no campo, a gente se conhece muito. Os caras se conhecem muito que jogam mais tempo ali, mas o time estava muito entrosado. Então a gente sabia que a qualquer momento de uma escapada, os meninos da frente são muito rápidos. O Luiz tirou um pênalti. É bizarro. Com uma rapidez que ninguém imaginava. Então, assim, de uma certa forma a gente sabia que a gente tinha capacidade de ganhar ainda. Porque o nosso poder ofensivo estava indo ali. Porque a gente tinha que defender bem e sair no contra-ataque, que transição é uma das características fortes do nosso time. Então a gente sabia que podia dar certo. E a partir do momento que sai o primeiro tempo com 2×0, a gente vai pro vestiário e fala “o mais difícil aconteceu, que com um a menos a gente conseguiu fazer dois gols em uma final de Libertadores, agora a gente tem que ser inteligente, um time matreiro, um time que sabe jogar, que acelera na hora certa, que pausa na hora certa”. O Botafogo mereceu, obviamente. Não só por ter jogado melhor, mas também porque encarou o jogo de uma forma mais inteligente.


– Eu acho que de final de Libertadores foi uma das melhores. Na minha opinião, não porque foi comigo ou com o Botafogo, mas, pô, tu ganha uma Libertadores com um jogador a menos desde os 30 segundos. Fazer 2×0 e ganhar da forma que foi. E se tu olhar com a caminhada do Botafogo, é eliminar o Palmeiras, eliminar o São Paulo, o Peñarol e depois o Atlético. Então, são times que já conquistaram o Libertadores, são times que têm história. Os adversários foram difíceis. Eu cheguei nas quartas com o São Paulo. Joguei as quartas, as semis e a final. O caminho percorrido e a forma como ganhamos a final foi, pra mim, uma das trajetórias, se não a mais, difíceis de ganhar. E o histórico do clube, também, de nunca chegar em uma final. Se a gente ganhar, vai ser muito grande. E junto, que eu te falei antes que ninguém percebia isso, ao mesmo tempo, estava correndo o Brasileiro. Então, era Libertadores, depois tinha um jogo no Brasileiro decisivo. Era sempre assim. Desde que eu cheguei, todos os jogos estavam sendo finais. O Artur fazia por ciclos, assim. Toda vez que tinha uma pausa na seleção, fechava um ciclo. Falava, “agora daqui até a próxima parada na seleção, nós temos X jogos. Isso aqui é um ciclo. Nós temos que fazer esse ciclo. Temos que vencer o máximo de jogos. Nós temos que vencer… Esse jogo, esse jogo, esse jogo, esse jogo…” Tipo, ele fazia por ciclos. Aí terminava o ciclo.


Ganhar os dois títulos


– Os jogadores também que ali estão, esse ano, como eu te falei, os líderes, os capitães de 2024 ali, o Marçal, o Marlon, o Barbosa, o Tchê, o Gatito, são caras que têm uma certa experiência e que também não deixaram… Jogadores que chegaram novos, também com uma mentalidade vencedora, o Luiz, o Igor, o Almada. Então, eu cheguei também com esse intuito de vencer. Eu acho que os fantasmas, o ano passado, a gente não deixou entrar. Falavam de fora. Em vez de amedrontar, a gente queria usar como combustível. E, cara, ganhar o título da Libertadores, depois logo em seguida o Brasileiro. A gente sabia que se ganhasse do Inter, a gente ia ter a chance de comemorar o Brasileiro em casa. Foi algo que motivava a gente. Artur falava, “não importa tudo isso, se você ganhar a Libertadores, nós ganhamos a Libertadores, beleza, mas nós temos mais um título pra conquistar”. Ele disse pra nós muito claramente “vocês escreveram uma página da história, só que o livro tem mais páginas. Você pode passar uma página e só estar numa página. Agora, se tu passar uma página, duas páginas, tu vai tá mais”. Então, assim, a gente foi motivadíssimo, assim, sabe? Fisicamente, não com top, mas a gente foi motivado pro Beira-Rio. E deu tudo certo. E depois que a gente ganha, cara, a gente falou, isso depende da gente em casa. E aí, pô, deu certo. Ganhamos o Brasileiro, comemoramos no Nilton Santos, comemoramos com a família lá no estádio.

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