O filme "Moneyball" ("O Homem Que Mudou o Jogo" no Brasil) conta a história de uma revolução nos esportes norte-americanos. Em 2002, o Oakland Athletics, com orçamento bem menor do que os rivais, decidiu reformular seu elenco com base em dados estatísticos. Ficou para trás a subjetividade dos olheiros da velha guarda, entrou em vigor um regime que decidia contratações com base em longos relatórios analíticos.
A partir da experiência no beisebol, a revolução dos dados tomou conta também da NBA e da NFL. No futebol, ela demorou um pouco mais e começou pela Europa. No Brasil, a formação do elenco do Botafogo de 2024 tem características ligadas a essa mudança.
Não se pode dizer que um clube que contratou Almada e Luiz Henrique tem orçamento modesto. Mas o primeiro reforço da gestão de John Textor no Botafogo mostra a importância da modernização do departamento de scout. Antes de contratar qualquer jogador, o norte-americano acertou a chegada de Alessandro Brito, então no Atlético-MG, adversário da final da Libertadores no sábado.
Assista a matéria especial do Globo Esporte de como os jogadores se encaixaram neste novo Botafogo em 2024:
Indicado por Dougie Freedman, diretor de futebol do Crystal Palace (no qual Textor tem participação minoritária), Alessandro Brito chegou ao Glorioso em fevereiro de 2022 com a missão de mudar completamente o processo de captação de jogadores.
André Mazzuco, então diretor de futebol do Alvinegro, também teve papel fundamental na contratação de Alessandro. O executivo, que também acabara de ser contratado, ligou diretamente para Alessandro, sendo fundamental para o "sim" do scout.
No momento da contratação de Brito, o Atlético-MG havia acabado de conquistar o Brasileirão e a Copa do Brasil. Braço direito de Rodrigo Caetano, ele analisava nomes por por meio de dados e informações. Em 2021, o Galo contratou Hulk, Dodô, Nacho Fernández, Tchê Tchê e Diego Costa.
Mesmo com a dificuldade de tirar o profissional do Atlético-MG, Textor conseguiu convencê-lo a se mudar para o Rio de Janeiro depois de uma longa conversa presencial. Assim, foi criado o Departamento de Inteligência do Botafogo.
- Brito montou o melhor time do Brasil na última temporada. Ele tem compreensão dos jogadores de que precisamos e tem acesso a eles. É um grande feito tirá-lo do Atlético-MG. Espero que os torcedores reconheçam isso - disse Textor ao ge em 2022.
Ponto zero
Desde que chegou, Alessandro Brito definiu um perfil de jogador para o Botafogo contratar: jogadores fortes fisicamente, mas também com bom trato com a bola no pé. A vitalidade e a força são dois dos atributos que envolvem as quatro linhas mais exigidos pelo clube na hora de buscar um reforço.
Não à toa, apenas cinco jogadores com menos de 1,75m foram contratados desde o começo da SAF: Matías Segovia, que teve importância em certo momento de 2023 mas depois acumulou empréstimos para Molenbeek e Al-Ain; Emerson Urso, que pouco jogou; Damián Suárez, que deixou o clube após bom início para jogar no Peñarol; e a dupla Savarino e Almada, ambos titulares de Artur Jorge.
A primeira janela foi a mais desafiadora. Além de o clube ter acabado de subir da Série B, o Alvinegro ainda não tinha uma equipe e processos de observação estabelecidos. Por isso, usou informações vindas do Crystal Palace.
A primeira janela de 2022 é, até hoje, uma das mais caras do clube. A intenção era contratar rápido, já que a avaliação interna era que o time que disputara o Carioca era jovem e sem experiência de Série A. Foram 11 atletas contratados por um total de R$ 65 milhões.
Processos evoluem
Com o passar do tempo, o Botafogo foi criando as próprias pernas para correr atrás das avaliações dos jogadores. Um novo perfil foi marcado em destaque: jogadores em fim de contrato.
Atletas com custo zero de transferências - mas, claro, com pagamento considerável de luvas e comissões a empresários - passaram a ser tendência no Alvinegro. Em todas as janelas, o clube mapeia jogadores que estão a seis meses ou menos do fim do contrato (tempo possível para assinar um pré-vínculo com outra equipe e, assim, se transferir de graça).
Assim vieram nomes como Marçal, em 2022, Marlon Freitas, em 2023, e Igor Jesus e Alex Telles, em 2024.
Os dois destaques
Nem só de transferências a custo zero de transferência vive o Botafogo. A situação financeira de Textor e o perfil de rede multi-clubes permitem que o clube faça investimentos consideráveis. São os casos de Luiz Henrique e Almada, as duas contratações mais caras do futebol brasileiro.
Uma das intenções de Textor no médio prazo era tornar o Alvinegro uma vitrine para que os jogadores chegassem às suas respectivas seleções, o que aumentaria a atratividade do clube. Além do dinheiro pago nas transferências, ele utiliza uma ponte com o Lyon, clube da Eagle Football, como forma de convencimento. Há um caminho e projetos traçados na Europa para praticamente todos os atletas se eles se destacarem no clube carioca.
São os casos da dupla milionária. Almada, inclusive, tem acordo no papel para se transferir ao Lyon em janeiro. Mas a situação pode mudar: os jogadores se adaptaram ao Botafogo e há uma expectativa interna que eles possam ficar por mais tempo, pelo bom ambiente construído no clube. Tampouco está descartada a hipótese de venda para clubes fora da Eagle, já que o Lyon precisa fazer caixa.
A equipe
Alessandro chegou ao Alvinegro com uma equipe de observação com menos de 10 pessoas. O setor, hoje chamado de Departamento de Inteligência, evoluiu bastante desde 2022.
O Departamento de inteligência do Botafogo
Alessandro Brito - Diretor de Gestão Esportiva
Raphael Rezende - Coordenador Scout Pro
Equipe do Scout Pro - Brunno Noce, William Santos, Cristian Costa e Gabriel Nascimento
Henrique Simões - Coordenador Analytics
Alfie Assis - Coordenador Desempenho (+ 2 scouts no profissionais e 4 na base)
Mayara Bordin - Coordenadora Liaison (+1 coordenadora na base)
Rodolfo Kumbrevicius - Coordenador de captação (+6 scouts no clube)
A área de analytics é o setor de dados; scout pro é a parte que cuida do mercado; desempenho é o que analisa lances e detalhes do que acontece dentro das quatro linhas, e liaison é uma área de "bem-estar", que tenta cuidar da adaptação dos jogadores, principalmente os estrangeiros, ao clube.
Valorização
Alessandro tem perfil discreto - pouco aparece para dar entrevistas e não ficaao lado de jogadores durante apresentações -, mas é bastante presente internamente.
Sempre colado no celular, o scout ocupa a função de diretor de Gestão Esportiva desde o meio do ano. Ele assumiu também pastas de negociações e conversas com empresários na busca por jogadores, além de ser um dos representantes da Eagle Football na América do Sul.
+ ✅Clique aqui para seguir o canal ge Botafogo no WhatsApp
O preço do time do Botafogo
Diante de inúmeros processos baseados em dados, observação e scout, o Botafogo chegou à primeira final de Libertadores de sua história.
O provável time titular do Alvinegro na decisão custou R$ 337,9 milhões - valor que conta também com bônus e cláusulas que o clube só pagará no futuro, mas que estão presentes nos respectivos contratos de transferências. Valores de luvas e comissões não estão presentes nas contas.
John - R$ 5,8 milhões
Vitinho - R$ 61,8 milhões
Adryelson - Empréstimo do Lyon (Eagle Holding)
Alexander Barboza - Custo zero
Alex Telles - Custo zero
Marlon Freitas - Custo zero
Gregore - R$ 13,4 milhões
Luiz Henrique - R$ 106,6 milhões
Jefferson Savarino - R$ 13,1 milhões
Thiago Almada - 137,4 milhões
Igor Jesus - Custo zero