Após a goleada de 5 a 0 sobre o Peñarol pelo jogo de ida da semifinal da Libertadores, o treinador Artur Jorge celebrou seis meses à frente do Botafogo e falou, em entrevista à Botafogo TV, nesta sexta-feira (25), sobre a conexão com a torcida e o balanço da temporada alvinegra.
Assista abaixo:
Líder do Campeonato Brasileiro Série A e semifinalista da Libertadores 2024, o técnico português foi peça importante na virada de chave para o Glorioso em 2024. Ao chegar em abril, Artur Jorge assumiu a equipe ao fim do Campeonato Carioca e depois de uma derrota para o Junior Barranquilla na competição continental. Desde então, o Alvinegro é outro.
– Há seis meses atrás, quando em abril, eu cheguei, prometi, falei que seria uma caminhada de sucesso, e cada vez mais, eu tenho mostrado que eu foi uma aposta certeira, aquela que eu tive também, para poder faze parte deste grandioso clube e poder lutar por objetivos maiores. Esse sempre foi o meu compromisso. Estamos, à essa altura, com dois grandes objetivos pela frente, temos que lutar por eles ainda, mas o balanço é positivo.
Conexão com a torcida
– O que mais tem me surpreendido, honestamente, é a paixão dessa torcida, que me tem feito viver momentos que eu nunca vivi, nem como jogador e nem enquanto treinador. É uma energia muito contagiante, muito positiva. Eu espero que assim seja, porque é muito importante que nessa caminhada, que esperamos que se encerre com títulos, que seja feita em conjunto.
Mentalidade dos atletas
– É sempre muito importante para mim, na qualidade de treinador, olhar para o bem estar do meu atleta. Não considero que é só ter um bom trabalho físico se o atleta não tiver com sanidade mental, bem com si próprio. Sei aquilo que somos expostos, é um pouco de uma experiência acumulada também. É extremamente difícil o lugar que nós ocupamos. Nós não jogamos para nós, nós jogamos por muita gente, carregamos um sonho e a ambição de muita gente nas costas.
Importância de Allan para o elenco
– Vou dar este exemplo que é importante. Falo dos que jogam, dos que não jogam, da importância de todos. Vejam as imagens de celebração do primeiro e do segundo gol, não só a forma como todos se reúnem em torno do marcador, e vejam o gesto do Allan, que não jogou, para a equipe continuar, estar à procura de mais, reparem nesse detalhe. Faço homenagem ao Allan, que é merecida também, à contribuição importante que ele deu e puxou a equipe a frente. A mentalidade de equipe não só é do treinador ou dos jogadores que jogam mais tempo, é de todo o grupo de trabalho, que quer mais. Allan demonstra isso, para a equipe querer mais, fazer mais e buscar mais.
Artur Jorge deixa claro que o foco é trabalhar a mentalidade vencedora dos jogadores para disputar as duas competições (Libertadores e Brasileirão) com chances reais de títulos.
– Temos tentado fazer que essas metas que temos sejam de clube grande, de equipe grande, que possamos sentir diariamente a pressão. Fizemos há dois dias um jogo de semifinal da Libertadores, ganhamos com margem confortável, mas viramos o foco para o jogo com o Red Bull Bragantino. Não há tempo para desfrutar de euforia. Temos a responsabilidade de ter os pés fincados na terra, a responsabilidade de saber que projeto ainda está longe do fim, percebendo e vivendo os momentos bons. Não somos de ferro. Vivemos os momentos bons, ficamos orgulhosos, mas temos que virar o chip para treinarmos no dia seguinte. Ontem chovia muitíssimo e estávamos a trabalhar porque o objetivo está no jogo de sábado. Isso faz haver mentalidade ganhadora, jogadores não se cansarem de ganhar. Digo muitas vezes aos nossos jogadores não se cansem de ganhar. Por vezes, quando parecemos que estamos em patamar alto, a vitória deixa de ter o mesmo valor. Tem que ter sempre esse mesmo valor, temos que lutar em todos os jogos. Quando temos resultado que não gostamos, não há outra forma que não seja mudar a mentalidade para o jogo seguinte. É um processo, um trabalho feito, felizmente temos jogadores com muita ambição, que já ganharam muito, outros não, essa diferença faz haver um objetivo comum em favor do Botafogo para conseguir colocar esse clube no lugar que merece
Sobre conversa no intervalo contra o Peñarol
– Nós falamos de substituição como se só existisse a substituição de homem por homem. Mas, as vezes, pode haver a substituição de mentalidade, substituição posicional, e isso pode fazer toda a diferença. Eu conheço os meus atletas. Tenho que sentir o jogo, tenho que saber aquilo que nós propomos, saber se não estamos cumprindo por incapacidade, por vontade, por desleixo, há uma série de fatores.
– Contra o Peñarol, nós fizemos um jogo muito amarrado na primeira parte. Com duas equipes muito próximas uma da outra, sem grandes oportunidades. Por respeito, pela competição, uma semifinal em que um erro se paga caríssimo, e nós precisamos, naquele momento, fazer substituições posicionais de um ou outro jogador para sermos mais eficientes ofensivamente. Aumentar a velocidade da circulação para conseguirmos criar espaços. Além disso, eu pedi: 'continuem a acreditar no plano'.
O treinador revelou que pediu mais velocidade e intensidade aos jogadores. Segundo Artur Jorge, o Botafogo deixou que a primeira metade da partida se tornasse mais 'quebrada', com muitas pausas e respeitando demais o adversário. Mas, a equipe alvinegra gosta de ter o domínio, de jogar, do espetáculo do futebol, e quando conseguiram ter a bola, no segundo tempo, mais perto ficaram dos gols.
Apoio Familiar
O treinador destacou o apoio da família para o trabalho feito no Glorioso e revelou que todos se tornaram torcedores. Ao assistir o recado deixado pela esposa Maria Marques, Artur Jorge se emocionou.
– Três pontos muito importante. O primeiro é o fato dela ter estado comigo desde o primeiro dia. Foi muito mais difícil para ela do que pra mim de vir para o Brasil. Para mim, tinha um propósito, um objetivo muito claro, e em função do meu projeto esportivo, a vida dela muda completamente da noite para o dia. Em termos profissionais, a própria família, os filhos, os pais, acaba sendo uma mudança bem mais drástica para ela.
Sobre relação com os torcedores
– E mais uma peça importante, e sem dúvida nenhuma, motivadora, é a forma como eu fui recebido. Sinto muito a forma como criamos uma grande empatia, como sou tratado diariamente, de ser abordado, e não me chateia de ser abordado pelas pessoas, porque é uma questão de respeito mesmo. Fico muito grato de fazer tanta gente feliz trabalhando em prol do Botafogo.
Sobre o Palmeiras e parte da imprensa que cravaram que o time alviverde já estaria nas quartas de final e que ¨seria fácil¨ de passar pelo Botafogo
– Me dá muito gosto falar sobre a Libertadores. Meu ano já está com 16 ou 17 meses, mas vou chamar esse ano de de Liga dos Campeões e Libertadores. Difícil ter melhor. Enquanto treinador, é muito orgulho estar nessa competição. Dá um gosto especial porque na Libertadores foi o primeiro jogo que vi in loco, vim direto do aeroporto, perdemos em casa (para o Junior Barranquilla). Depois disso, minha estreia foi na Libertadores, perdi também, para a LDU. Em uma zona de grupos, isso me dá motivação, porque não gosto de zona de conforto, gosto de desafio. Nós éramos dados como mortos na competição. Depois de duas derrotas, falavam que o Botafogo ia cumprir calendário ou que iriam bater em nós. Isso me dá força. Disse aos jogadores que tínhamos um objetivo, falei de quatro jogos, tínhamos 12 pontos para fazer, dependia de nós, tínhamos que ter coragem. Já ninguém acreditava em nós, a maioria dos torcedores não acreditava, e nós fizemos nosso trabalho, nosso caminho. No penúltimo jogo vencemos, conseguimos a classificação direta sem nem precisar dos quatro jogos. Conseguimos em três, por mérito do nosso trabalho – lembrou Artur Jorge, que ainda teve outra motivação.
– Disputamos depois o último jogo, ficamos condicionados por ficar com dez jogadores, depois veio o mata-mata que nos leva para gosto pessoal, desafiem, desvalorizem que gosto. Eu senti. A frase que mais me tocou foi “ver com quem o Palmeiras jogaria nas quartas de final, quem seria o adversário”. Para mim, foi gatilho. Vamos tratar disso. Alimentar os jogadores disso também, ter essa capacidade nos desafio, vamos levar conosco também – detalhou.
O Botafogo volta a campo neste sábado (26), contra o Bragantino, no Nabi Abi Chedid, a partir das 19h (de Brasília), em partida decisiva que pode valer a liderança do Campeonato Brasileiro. Em seguido, na quarta-feira (30), vai a Montevidéu, enfrentar o Peñarol pelo jogo de volta da semifinal da Libertadores para consagrar a vaga na final.