Em entrevista exclusiva ao SITE DA FIFA, Artur Jorge diz que Botafogo era um ¨gigante adormercido com uma meta definida¨

 
Artur Jorge comemorando a classificação do Botafogo à Semifinal da Libertadores 2024 no Estádio do Morumbi


A primeira temporada de Artur Jorge no Botafogo se aproxima de momentos decisivos. Nas próximas semanas, o treinador português comandará o Glorioso em uma semifinal de CONMEBOL Libertadores 2024, contra o Peñarol, do Uruguai. Ao mesmo tempo, seu time tem uma liderança para sustentar no Brasileirão, dividindo sua força entre as duas frentes para dar pelo menos um título a um clube que tem uma linda história e busca se reencontrar, sim, com a glória.


“O Botafogo confirmou aquilo que eu pensava, de ser um gigante adormecido”, contou o técnico à FIFA, sobre o clube que, durante o a era dourada do futebol brasileiro nos anos 60, só tenha ficado atrás do Santos.


Sua escalação já teve mitos como Garrincha, Nilton Santos, Didi, Gerson e Jairzinho, mas eles nunca venceram a Libertadores antes. “Em relação àquilo que é o passado, a história do clube faz-se de passado, de figuras, de conquistas e nós sabemos que o Botafogo tem, de fato, individualidades que se destacaram, que foram importantes na história do clube, mais recente ou antiga, mas nunca surgiu essa oportunidade por contextos que eu próprio não sei explicar.”


A consciência dessa história foi o fator motivacional para Artur, depois de tantas sondagens, enfim decidir que era hora de deixar Braga para rumar ao Rio de Janeiro. “Para mim, importante também, era a adrenalina que eu sentia de poder estar fora da minha zona de conforto.”



Sporting Clube de Braga, ex-clube de Artur Jorge conquistou a Taça da Liga de Portugal em janeiro de 2024 — Foto: SC Braga/Site oficial

Em Portugal, ele já havia transformado a história do Braga, com um título da Taça da Liga e uma rara classificação para a Liga dos Campeões da UEFA. O objetivo é deixar uma marca dessa magnitude também no Botafogo.


“Não penso se a história será diferente antes ou depois de mim, penso que posso deixar uma pegada de história também”, destacou Artur, que citou a possibilidade de classificação para o Mundial de Clubes da FIFA em caso de título na Libertadores.



“Vamos trabalhar no sentido de fazer com que o nome Botafogo possa estar dimensionado à imagem de todos os grandes clubes mundiais”.


Confira outras respostas de Artur Jorge para a FIFA:

FIFA: Você estava no Braga quando recebeu o convite do Botafogo. Como foi aceitar essa proposta?


O Botafogo confirmou aquilo que eu pensava, de ser um gigante adormecido, que com um projeto, com uma meta bem definida, me cativou para um desafio. E para mim, importante também, era a adrenalina que eu sentia de poder estar fora da minha zona de conforto. Portanto, vir para o Botafogo foi uma decisão fácil para mim, que superou as minhas expectativas, ao dia de hoje, tendo em conta aquilo que eu tenho vivido dentro deste clube.


Como tem sido a sua vida no Rio de Janeiro? A cidade te abraçou bem?


Fui muito bem acolhido. Quando falo daquilo que é um gigante adormecido, é exatamente essa dimensão medida por aquilo que são os torcedores do Botafogo. Tenho sentido um carinho imensurável por parte de todos eles. Obviamente que eu sei que isto está ligado aos resultados também.


Nos seus primeiros contatos com o elenco do Botafogo, o que mais te chamou atenção?


Muito honestamente, o que pensei imediatamente após os meus treinos é que nós éramos capazes de fazer muito melhor do que aquilo que estávamos fazendo. Foi essa a sensação que eu fiquei. E digo isto porque o tempo não foi tanto assim, mas foi fácil de perceber que nós tínhamos jogadores com qualidade para render muito mais.


Um dos pontos do seu trabalho é o aspecto mental. Em que momento você definiu que seria essa figura que blindaria o elenco sobre as perguntas e o fantasma de 2023 [quando o time perdeu o título brasileiro nas últimas rodadas]?


A partir do momento em que cheguei. Porque eu mudei a forma de jogar, mudei a forma de treinar, tenho que mudar a forma de olharem para nós, tenho que mudar a forma como nós pensamos, porque aquilo que nos é devido é aquilo que nós fazemos em relação ao futuro, não em relação ao passado.


Já falei também abertamente sobre isso, não é tabu, nem deixamos de falar sobre isso, é uma situação que vai ficar eternizada. Mas neste momento, até porque me parece que já houve uma grande rotatividade em relação aos jogadores, é importante nós fazermos com que possamos ser avaliados e olhados por aquilo que fazemos no presente e aquilo que é o objetivo futuro.


Quão real é o sonho do Botafogo de ser campeão da Libertadores?


Eu tenho uma ambição muito grande de chegar à final. Temos um adversário com as mesmas condições em termos de possibilidades, que nós respeitamos muito. Sabemos das dificuldades que iremos encontrar, mas sabemos também das nossas capacidades, que é possível, sabemos que nesta altura estamos a um pequeno passo de atingir um marco histórico no clube, de chegar aonde nunca chegamos.


O Botafogo nunca disputou a final…


E este, para mim, é um objetivo muito, muito importante, tendo em conta que foi um longo percurso, que não começou comigo nos playoffs que foram feitos. Mas onde, em dado momento, na fase de grupos, estávamos dados como mortos para a competição, e uma vez mais mostramos o que temos enquanto interior, o que somos, quando acreditamos naquilo que fazemos e naquilo que temos como meta.


Isso é para nós uma motivação muito, muito forte para o confronto que teremos com o Peñarol, porque sabemos que são dois jogos difíceis para as duas equipes, mas onde nós temos possibilidades de poder chegar a essa final, e vamos, com toda a certeza, deixar até a última gota de suor dentro do campo para conseguir atingir esse objetivo.


O Aguirre nos disse que acha que o Botafogo é a melhor equipe da Libertadores, em termos de futebol jogado. Você concorda com ele?


Para mim, [o Botafogo] é o melhor porque são os meus, mas também tenho noção da realidade e do que é ter este desafio e não valorizar aquilo que está do outro lado. Tenho anos suficientes de futebol para perceber que acredito que é possível chegarmos lá e acredito nos meus jogadores. É em cima do nosso trabalho, da nossa ambição, do nosso foco que nós conseguiremos lá chegar, da mesma forma que nós conseguimos chegar aqui. Porque há cinco meses não éramos de todo os melhores, eu sabia que também não éramos os piores e hoje penso exatamente da mesma maneira.


Você é um técnico que mudou a história do Braga. Repetir isso no Botafogo é algo que te ambiciona? Saber que pode existir um Botafogo antes e depois do Artur Jorge…


O meu maior conforto é olhar para o desafio que está à minha frente. Sei que a Libertadores, e estamos a falar de 30 de novembro, é um objetivo que eu tenho, não vou deixar de o assumir também. Eu tenho pessoalmente, e tenho enquanto líder de um clube, líder de um grupo de jogadores que tem essa mesma ambição, mas nesta altura eu tenho que pensar de uma forma mais calculista: saber que é importante. Não estou a pensar se a história será diferente antes ou depois de mim, estou a pensar em que posso deixar uma pegada de história também. E essa pegada seria muito importante, não só pelo trabalho que temos feito, mas também porque é muito importante para o clube ter uma marca no seu crescimento. Uma marca física, nesta altura com duas aberturas, sendo uma delas nacional e outra internacional. Vamos tentar com que possamos ter essa marca no final do ano.


O campeão da Libertadores garante vaga na Copa Intercontinental da FIFA 2024 e no Super Mundial de Clubes da FIFA 2025. O quão importante seria para o Botafogo reposicionar o clube entre essa elite do futebol mundial?


Nós podemos falar de probabilidades e a probabilidade existe para nós, é um fato. Esta é uma porta para nos catapultar para uma dimensão intercontinental. De uma forma em que colocar o Botafogo, depois do que se passou em anos anteriores, em um processo de crescimento e grandes dificuldades até… Podermos falar disto do Botafogo já é uma conquista. Mas nós queremos mais e queremos fazer com que mais do que isto se fale. Vamos todos trabalhar para fazer com que o nome Botafogo possa estar dimensionado à imagem de todos os grandes clubes mundiais e poder colocarmos nós nessa posição. Não estando aqui interessado porque vamos jogar com A, com B ou com C, mas colocar lado a lado o nome do Botafogo com todos os outros clubes internacionais.


O Botafogo já teve jogadores como Garrincha, Nilton Santos, Jairzinho e Didi, mas nunca ganhou uma Libertadores. Qual o peso e a importância de tentar escrever uma história inédita para um clube que já teve tanta gente escrevendo tantas histórias?


O peso não é nenhum, honestamente, o peso não é nenhum. Para mim, é desfrutar dos momentos, não de forma leviana, mas com uma grande garra, com grande paixão, com grande entrega, com determinação, com ambição. A única forma que eu consigo ter leveza é carregado de adjetivos pesados para que eu possa sair da minha zona de conforto e lutar por todos eles.


A história do clube faz-se de passado e sabemos que o Botafogo tem individualidades que se destacaram, mas nunca surgiu essa oportunidade por contextos que eu próprio não sei explicar. Sei que nesta altura nós criámos condições para que este contexto nos seja favorável, trabalhamos muito para chegar aqui, vamos trabalhar muito para passar esta semifinal também para podermos ter a oportunidade de disputar um troféu com uma dimensão que é a Libertadores.


Com informações: SITE DA FIFA, em matéria especial sobre o Super Mundial de Clubes 2025

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