A passagem desastrosa do técnico Bruno Lage pelo Botafogo chegou ao fim na noite de terça-feira (3). Pressionado por maus resultados e pelo desgaste perante líderes do elenco alvinegro, o português foi desligado do cargo após cerca de três meses no cargo.
Lage encerrou uma trajetória iniciada com prestígio diante de Textor e até uma camisa 7 de presente. Porém, que acabou marcada por momentos peculiares à frente do líder do Campeonato Brasileiro.
'RODÍZIO' DO ELENCO
Como o Botafogo disputava simultaneamente o Campeonato Brasileiro e a Copa Sul-Americana, Lage decidiu "rodar" o elenco. A equipe principal era lançada na competição nacional, enquanto um time misto disputava o título continental. Sua definição deu margem para Gatito Fernández voltar a ser titular da meta alvinegra depois de cerca de um ano. Atletas como Philipe Sampaio, Danilo Barbosa e jovens como JP Galvão, Hugo, Luís Henrique e Janderson receberam chances.
O Glorioso superou Patronato, da Argentina, com um empate em 1 a 1 em sua estreia no comando. Depois, levou a melhor no mata-mata com o Guaraní, vencendo por 2 a 1 no Niltão e arrancando um suado 0 a 0 no Defensores del Chaco, no Paraguai. Porém, deu adeus à Sul-Americana perdendo para o Defensa Y Justicia nas quartas de final. O treinador frisava que não tinha "11 titulares, mas 22 titulares".
GRANDES MOMENTOS, MAS...
Em seu início de trabalho, o Botafogo engatou dez jogos sem perder. Porém, trouxe as primeiras oscilações. Carregado por sua torcida, a equipe fazia grandes exibições como as vitórias sobre o Coritiba, Internacional. Só que a força defensiva começava a vacilar, sofrendo alguns gols como mandante.
Além disso, a equipe perdeu força com a saída de Gustavo Sauer e não encontra afirmação pelo lado esquerdo de ataque. Outro marco foi o começo de uma sequência de empates, traço da "era Bruno Lage".
POUCA CRIATIVIDADE
Boa parte dos empates aconteceu no Brasileirão, em especial em jogos nos quais o Botafogo atuou como visitante. Nestas partidas, a equipe esbarrou na falta de criatividade.
Suas jogadas passaram a sobrecarregar Eduardo. Invariavelmente, a bola tinha de passar pelos pés do camisa 33 para ter alguma jogada ofensiva. Aos poucos, o jogador se tornou presa fácil. Defensivamente, porém, o Botafogo vinha atuando bem e garantia pontos graças a atuações fortes de Lucas Perri, Adryelson e Cuesta, especialmente.
'ENTREGA' DE CARGO
Em 2 de setembro, Bruno Lage causou surpresa após a derrota do Botafogo para o Flamengo por 2 a 1. Na entrevista coletiva, o treinador fez um breve pronunciamento e colocou seu cargo à disposição.
- Eu tenho contrato com o Botafogo até dezembro, é muito dinheiro de salários, tenho prêmios que já estão praticamente garantidos por ir à Libertadores. Tem o prêmio de campeão, mas não tenho nenhum problema de abdicar disso, porque não sou guloso pelo dinheiro. O que não posso permitir é que a pressão que está sendo exercida sobre mim seja exercida sobe meus jogadores. É isso que eu tenho para dizer. Meu lugar está à disposição de quem manda, sem qualquer outra coisa para dizer. Boa noite, obrigado - afirmou e foi embora.
Após horas, a cúpula alvinegra contornou o impasse e manteve o treinador. Lage, em entrevista ao "ge", disse que frase foi uma "estratégia".
POUCOS CHUTES E JOGADORES NO SACRIFÍCIO
Após a parada da Data Fifa, o técnico viu o poderio ofensivo decair sensivelmente. Na derrota para o Atlético-MG, por 1 a 0, nenhuma finalização foi em direção ao gol.
Diante do Corinthians, a expulsão de Marçal levou o treinador a alçar Tchê Tchê a curinga. O camisa 6 atuou tanto como meia, sua posição de ofício, quanto foi articulador, ponta, lateral-esquerdo e lateral-direito. Na partida contra o Goiás, Tchê Tchê foi lateral-direito, e Gabriel Pires atuou no meio ao lado de Marlon Freitas. Mesmo assim, a decisão de promover variações para surpreender adversários não foi suficiente para tornar o Alvinegro incisivo e quebrar o jejum.
Outros jogadores também atuaram de maneira improvisada, mas não tornaram a equipe ofensiva. As dificuldades de articulação nos jogos mais recentes também sobrecarregaram o setor ofensivo. Frequentemente, Tiquinho Soares voltou para engatar jogadas.
'ACREDITEM COMO NÓS!'
O Alvinegro veio deixando escapar pontos. Mas, mesmo assim, Lage não perdeu a fé e fez um apelo após a derrota para o Corinthians.
- Puxem para cima agora, é do que eles (jogadores) precisam. O torcedor do Botafogo é apaixonado, de um clube grande, mas na primeira rodada estavam lá 10 mil. Agora estão 50, 60 mil a empurrar esse time. Foram eles (jogadores) que puxaram para cima. Agora eles precisam desse carinho. E não que "olha, vamos entregar o ouro, vamos perder". Não, c...! Acreditem como nós, porque eles acreditam. Estavam com dez jogadores a correr, p.... Deram a vida pelo capitão, que teve que sair aos 25 minutos. Agora é o momento de estarmos todos juntos. Se tiverem que bater, batam em cima do treinador, sem problema nenhum - e destacou:
- Da mesma maneira que eu estou assertivo aqui, vocês entendam que é a forma que eu estou. As pessoas dizem: "Olha, como ele é parado na área técnica". Sou parado porque estou me controlando. É assim que eu trabalho todos os dias com meus jogadores, passando energia positiva. Passem também, torcedores. Se tiverem que apontar o dedo, apontem para mim, sem problema nenhum. É no Bruno, é no Bruno, é no Bruno. Deem carinho máximo para eles, não exponham mais pressão ou mais ansiedade, deem liberdade total para eles jogarem o jogo- completou.
O objetivo foi manter mobilização, especialmente para evitar que a equipe perca mais pontos.
'CASO TIQUINHO SOARES' DEGRINGOLA TRAJETÓRIA DE LAGE NO BOTAFOGO
A semana desenhava um cenário de reação do Botafogo. O treino aberto para a torcida levou apoio maciço dos botafoguenses. Na segunda-feira à noite, cerca de 34 mil botafoguenses foram ao jogo com o Goiás no Niltão.
No entanto, a escalação logo assustou a torcida. O anúncio de Tchê Tchê na lateral e um meio com Marlon Freitas, Gabriel Pires e Eduardo chamaram atenção. Mas a escolha de Diego Costa no lugar de Tiquinho Soares rendeu uma forte vaia. O gol do Goiás acentuou a impaciência dos botafoguenses, que pediram o camisa 9 em campo. Tiquinho entrou e igualou o marcador. O empate em 1 a 1 desceu mal para os torcedores, que não pouparam Bruno Lage dos gritos de "burro, burro!". Foram 17 pontos perdidos pelo Botafogo com Lage.
O dia seguinte, porém, trouxe detalhes que desenharam uma verdadeira falta de sintonia do treinador com o elenco. A insatisfação se alastrou por departamento de futebol e chegou a lideranças da equipe, que se queixaram para John Textor. Foi o fim do período de Bruno Lage no Botafogo.